O PADRE, O JEGUE E A VÁRZEA : ALEGRES !


                              
                                   

“A grandeza não consiste em receber
honras, mas em merecê-las.”
Aristóteles


                                               Tem surgido um movimento popular em Várzea Alegre, no sentido de batizar o novo prédio da Câmara Municipal com o nome do Padre Antonio Vieira. Claro que, em tempos eleitorais, onde a luta por espaço político intensifica-se e vezes ganha ares de batalha campal, sempre existe o risco de procurar-se outros nomes , muitas vezes bem distanciados da cultura local, com fito único de impulsionar suas carreiras políticas. Imaginam, muitas vezes, que a Câmara é uma casa política, esquecendo-se que, em verdade, ela representa, sim,  a representação popular em cada cidade. Desconhecemos que outras personalidades podem estar no cardápio, quando se trata deste prêmio, queremos, assim, apenas defender o nome do Padre Antonio Vieira neste embate.
                                   O Padre Vieira (1919-2003)  é , simplesmente, um dos mais célebres e importantes filhos que  a estirpe do Papai Raimundo  legou ao Brasil. Menino pobre, da Lagoa dos Órfãos, com inteligência e determinação,  venceu obstáculos aparentemente intransponíveis. Professor de incontáveis recursos, transitou pelo ensino do Português, do Latim, do Grego, do Italiano, do Francês, da Filosofia, do Hebraico. Formou-se em Direito na Universidade do Rio de Janeiro, licenciando-se em Direito, em Ciências, Filosofia e Letras. Graduou-se, além disso, na Universidade da Califórnia em  Economia. Da sua pena brotaram mais de vinte livros, entre estes,  o internacionalmente reconhecido “O Jumento, nosso Irmão”, ainda hoje o mais importante estudo sociológico sobre o assunto, em todo mundo, inclusive com tradução para o Inglês. A batalha pela preservação do irmão terminou inspirando Luiz Gonzaga numa das suas mais célebres e populares canções.  Com uma visão profundamente franciscana, o Padre Vieira construiu a Igreja de São Francisco , em Crato e tornou-se um dos nossos primeiros ecologistas, nos primórdios dos anos 60. Não bastasse isso, incansável, adentrou na vida política, em plena Ditadura Militar, elegendo-se Deputado Federal para o período de 1967-1970 . Profundamente atuante, orador incendiário, denunciou as profundas distorções da Ditadura instalada, a Tortura , a prisão e assassínio de líderes sindicais e estudantis e terminou cassado, sumariamente, em 1968, na primeira leva do AI-5. Continuou uma profusa vida jornalística,  escrevendo para jornais cearenses periodicamente e fundou o Clube Mundial do Jumento que contava, em suas fileiras, com personalidades artísticas e políticas importantíssimas do cenário mundial.
                                   Cidadão do mundo, o Padre, decidiu, humildemente, ter seu berço e seu túmulo na sua amada Várzea Alegre, onde hoje repousa dos duros embates da vida, na sua querida Lagoa dos Órfãos.  Quando a Câmara de Vereadores decidir apor o nome do Padre Vieira no seu frontispício estará, não só homenageando um conterrâneo célebre e ilustre, mas imediatamente se comprometendo a seguir a sua luta, sua determinação e sua sensibilidade social. Mais que oferecendo uma láurea , um encômio,  a Câmara de Vereadores de Várzea Alegre estará assumindo um compromisso  de pugna, de decoro, de decência e de dignidade não só para consigo mesma mas    com a história do Padre Antonio Vieira.

J. Flávio Vieira

Crato, 19/03/2018

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Cearense, a segunda médica brasileira

BIOGRAFIA DO POETA ANTONIO FRANCISCO

BIOGRAFIA DA CANTORA ANASTÁCIA